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Como o sono afeta o desejo sexual?

Fevereiro 14, 2024

O desejo sexual, a excitação sexual, o prazer sexual, é muito determinado pelo bem-estar físico da pessoa e também pelo humor, e é aí que a qualidade do sono entra, de acordo com o entendimento da sexóloga Ana Alexandra Carvalheira.

Ana Carvalheira, é sexóloga há mais de duas décadas, doutorou-se em Psicologia da Sexualidade pela Universidade de Salamanca em 2006 e mestre em Neuropsicologia Clínica pela mesma universidade. É professora auxiliar no ISPA – Instituto Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida e investigadora no William James Center for Research.

Como o sono afeta o desejo sexual e vice-versa?

O sono e o desejo sexual tem uma relação bidirecional, ou seja, o sono afeta o desejo sexual e vice-versa.

O sono afeta a saúde em geral, bem-estar, saúde física, qualidade de vida, e por conseguinte, afeta também a saúde sexual.

O desejo sexual está relacionado diretamente com a qualidade do sono?

Não está diretamente, mas o desejo sexual é multifatorial, isto é, é influenciado por múltiplos fatores, como por exemplo, o estado emocional, as preocupações que tem na cabeça, a qualidade de vida, os níveis de stress, a qualidade da relação que tem com o parceiro ou parceira, o stress profissional, e também fatores biológicos, se há alguma doença, os tratamentos que se fazem para as doenças e problemas de saúde, e também a qualidade do sono, tudo isto, são exemplos de fatores que influenciam o desejo sexual.

O desejo sexual e a excitação sexual, o prazer sexual, é muito determinado pelo bem-estar físico da pessoa e também pelo humor, e é, aí que a qualidade do sono entra.

O prazer sexual é influenciado pela qualidade do sono de uma forma indireta, mas ela é real. A qualidade do sono impacta diretamente no bem-estar psicológico da pessoa e isso é que predispõe a pessoa para atividade pessoal.

Alguém que tem um mau colchão, que dorme mal, que faz turnos, que tem uma perturbação de sono, como por exemplo, insónia ou apneia do sono, vai acordar cansada, maldisposta e com irritabilidade, que são problemas da saúde psicológica, logo essa pessoa, não está predisposta para fazer atividade sexual.

Os distúrbios de sono, como por exemplo, insónia, apneia do sono, entre outros, podem influenciar negativamente a vida sexual dos casais?

Claro que sim.  A insónia, apneia do sono, a síndrome das pernas inquietas, influenciam negativamente o interesse sexual, a excitação, e o prazer.

Há também uma relação bidirecional, entre depressão e ansiedade e qualidade de sono. Muitas vezes a perturbação de sono tem haver com o quadro de depressão e/ou ansiedade, e claro que este cenário impacta negativamente no prazer sexual, na qualidade da sexualidade da pessoa.

Existe alguma dose de sono recomendada para ter uma boa relação entre as duas variáveis: o sono e as relações sexuais?

As 7 a 9 horas de sono é o recomendado pelos especialistas em sono.

Os hábitos de sono podem melhorar a intimidade entre casal?

Podem, se houver bons hábitos de sono. De facto, um bom hábito de sono é uma estratégia de coping muito importante para lidar com o stress. Além disso, uma boa qualidade de sono é uma ótima medida para reduzir o stress.

Um hábito de sono fundamental para a vida sexual do casal é não levar ecrãs para a cama e irem para a cama, se possível, juntos. Por exemplo, manter o telemóvel fora do quarto ou longe da cabeceira, bem como não usar o telemóvel dentro do quarto, são recomendações eficazes.

Como afirma a sexóloga Ana Carvalheira, “O telemóvel fora do quarto ou longe da cabeceira, não usar o telemóvel dentro do quarto.

Acha que sono de má qualidade também dificulta a comunicação emocional entre casal?

Claro. O sono de má qualidade traz irritabilidade, má disposição, e isso é quase como uma bomba-relógio, é explosivo, estão despertos para pequenos conflitos e para uma má qualidade na comunicação.

A qualidade de sono impacta diretamente na saúde mental e física, e a saúde sexual apanha por tabela.

Uma pessoa que dorme mal, por exemplo, uma noite mal dormida num hotel devido a um mau colchão, a pessoa acorda maldisposta e irritada, não há disponibilidade para a atividade sexual.

A má qualidade do sono, perturba o humor e o humor perturba a atividade sexual.

Nos casos que já passaram por si, algum teve uma melhoria significativamente após o casal adotar bons hábitos de sono?

Sim, mas não falam sobre isso, eu é que questiono. As pessoas estão tão desconectadas do corpo que muitas vezes não dão conta que o colchão já devia estar no lixo.

As pessoas não investem em colchões de qualidade, e é difícil explicar isto, porque há uma grande desconexão ao corpo, as pessoas estão muito desconectadas ao corpo, só ligam quando dói, as pessoas focam-se no corpo pelas coisas negativas, pelas dores e pelo mau estar, não se focam no corpo nem se lembram, não o sentem quando ele está bem.

As pessoas cada vez mais andam a mil à hora, têm níveis de stress, e ansiedade cognitiva tão grande, que desabitam o corpo, portanto, não sentem a diferença entre um bom colchão e um mau colchão. As pessoas não estão afinadas na sua perceção para compreender o que acontece ao meu corpo quando me deito num colchão mole ou num colchão duro.

“As pessoas desabitam o corpo, como se tivessem cortado o pescoço e estão apenas cá em cima, na cabeça” afirma Ana Carvalheira, professora investigadora do ISPA- Instituto universitário.

 

Se pudesse definir hábitos essenciais para um bom relacionamento e um bom sono quais seriam?

  • Respeitar as diferenças do outro e a liberdade do outro.
  • Comunicar sentimentos.

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